Crise: Reflexos atingem GM do Brasil – Dr. Fernando Zilveti – Autodata

São Paulo, 08 de abril de 2009

Crise: Reflexos atingem GM do Brasil

Raquel Secco

Entrevista – Dr. Fernando Aurelio Zilveti

Apesar de o presidente Jaime Ardila assegurar que a filial brasileira nada sofrerá com a crise pela qual passa a corporação a General Motors do Brasil já sente as consequências e prepara-se para reflexos inevitáveis. Sua assessoria de imprensa informou na quarta-feira, 8, que a empresa ratifica a posição de independência com relação à matriz e assegura que suas operações continuarão normais. Mas, com o caixa alimentando a matriz com o envio de royalties a subsidiária já encontra dificuldades para tomar crédito, observa Fernando Zilveti, sócio da Zilveti e Sanden Advogados.

O motivo, segundo ele, é que os bancos estão mais exigentes para liberar crédito, mesmo com os resultados positivos da GM no País. A dificuldade é conseguir descontar os recebíveis no sistema financeiro nacional. Tharcísio Bierrenbach Santos, diretor da FAAP MBA, concorda parcialmente. Para ele o problema é o aumento do número de empresas em busca de crédito no mercado interno, gerador da alta dos spreads bancários. A alternativa saudável, que deve ser seguida por outras unidades do grupo, é descolar-se da matriz. A justificativa é evitar a repetição dos acordos feitos com fornecedores globais caso a matriz peça concordata.

O normal é o fornecedor global ser obrigado a repetir as condições acertadas com a matriz nas negociações com as filiais, diz Zilveti. Afinal os acertos feitos com base no Capítulo 11 serão globalizados. Bierrenbach Santos recorda que em sistemas de fornecimento global, nos quais a matriz coordena as compras, as filiais correm o risco de desabastecimento uma vez que as fornecedoras podem ficar sem receber, aumentar os preços ou reduzir os prazos de pagamento. Para tornar-se independente a GM do Brasil tem transferido a produção do maior número de peças e componentes para empresas menores e com contratos nacionais. Esse deslocamento é possível em boa parte dos itens, mas não nos fundamentais.

Outra tendência indicada por Bierrenbach Santos é a da transferência da área de engenharia para o Brasil, processo em andamento desde o ano passado, que gerará economia considerável à matriz e trará vantagens à operação brasileira: Se o governo não fizer nenhuma bobagem o País pode tornar-se um real pólo de desenvolvimento industrial automotivo.

O sistema de esvaziamento gradual dos ativos da empresa dificulta muito a sua recuperação por impedir que os credores, em sua maioria bancos e fornecedores, trabalhem a favor. Do ponto de vista de Zilveti a corporação deveria ter pedido concordata há mais de um ano, quando ainda detinha algum caixa. O pedido de concordata, a recuperação judicial, raras vezes é feito com o objetivo de recuperar realmente a companhia: em geral o pedido é feito para salvar o negócio com outra roupagem, novos contratos, novos clientes e menos funcionários. Bierrenbach Santos ainda vislumbra outra mudança no cenário mundial como efeito da crise: as filiais mais independentes e a matriz assumirão a coordenação do grupo. As empresas adotariam o sistema transnacional, pelo qual toda a produção é deslocada para países mais competitivos, como os do Bric e o México, no caso da GM.

Boletim AUTODATA, 08 de abril de 2009

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